terça-feira, 14 de dezembro de 2010

Este Presépio


pintura/Langue de Morretes
(1953)



Do meu amor eu não o canto a Babel
nem o vejo no delírio do povo
este tabernáculo é quintal
e guarda o meu pé de sabugueiro as floradas
da minha criança
bebo da losna amassada
escrevo com cunha de pinhão e derramo
do cálice esta pinha desfolhada
pinta a manjedoura do céu a pomba a estrela guia da araucária
Este presépio é pastor das minhas ovelhas


Feliz Natal!
Próspero e Abençoado Ano Novo de 2011!

terça-feira, 30 de novembro de 2010

sexta-feira, 1 de outubro de 2010

MORADA DE VAGALUMES



Lilian Reinhardt


(líricas de um evangelho insano)



Fagulhas do paiol, no dorso negro do céu crepitam as lavas.

No coração triste do caboclo o palheiro acende e apaga,

os vagalumes do tempo de sua morada!

quarta-feira, 22 de setembro de 2010

AMOR E SOLIDÃO


pintura/Van Gogh




Iratiense Joel Gomes Teixeira

As chamas crepitavam no fogão de barro e na panelinha preta e amassada borbulhavam os grãos de feijão entornados em caldo grosso.Pendurados numa ripa a rodela de linguiça e um manto de touçinho envolviam-se na fumaça que se erguia da lenha de bracatinga.
Tarde fria de outono...Sentado à boca do fogão,o velhinho era a personificação do abandono vivendo a solidão do fim do dia,naquela hora em que o céu aquieta-se entristecido e retornam caladas as últimas curucacas.
O olhar passeando pelas tábuas encardidas da parede...Uma caneca pendurada ali,um guarda chuva velho acolá,uma latinha de azeite de onde levanta-se em riste uma "espada de São Jorge"...Tudo tão familiar,tudo melancólico e vazio.Num dos cantos o quadro emoldurado...O casal!...Ela trazendo os cabelos presos,é jóvem ainda,e preserva aquêle ar de riso caboclo,acabrunhado,de quem fêz pôse ao retratista.O jóvem ao seu lado,tem os cabelos bem penteados,um bigode vistoso e um ar de felicidade.
Seus olhos,estáticos agora,sorvem aquêle retrato com a saudade de seus melhores dias.O casebre era o mesmo.Pobre em suas formas,acabrunhado em seus pertences...Rico em vivências! A jóvem senhora do retrato percorria os espaços com seus detalhes femininos,as flores brotavam ao redor das janelas e o feijão entornado em caldo grosso era servido à mesa como um autêntico manjar.
Um dia ela partiu e o casebre nunca mais foi o mesmo.O jasmineiro continuou a escorrer seus cheiros pelos desvãos da cêrca , saudoso do tempo em que o casal cruzava alegre pelo portão de entrada.

Em busca de melhores condições de vida,foram-se os vizinhos e aos poucos a aldeia foi ficando vazia.O velhinho achou por bem permanecer ali.Quase ninguém lhe visita e êle,resignado,entre uma baforada e outra no palheiro,encontra agora no crepitar das chamas o calor que aqueçe-lhe a alma solitária.
À noite,seu olhar procura o céu.Vez e outra,uma estrela cadente entra pelas janelas abandonadas das casas da aldeia,e seu coração dispara!...Alguma coisa lhe diz que a môça do retrato retornou num feixe de luz...Adormece varado de constelações e quando brota um novo dia,tudo recomeça em seu casebre.


Iratiense Joel Gomes Teixeira
Publicado no Recanto das Letras em 14/09/2010
Código do texto: T2498501

domingo, 11 de julho de 2010

P R E C E


pintura/Jean François Millet






Iratiense Joel Gomes Teixeira


Cintila o verde ao sol de novembro
Manhã de domingo,trajes de linho!
Carroça vermelha,no assento a velhinha
Na alva cabeça,um branco lençinho


Ao longo das leiras se deitam espigas
É o milho,é o trigo,na dança dos ventos
Acenos sublimes,sutis oferendas
Milagres de grãos gerando alimentos


Colinas e vales,cruzando a ponte
Agora a carroça se faz triunfal
A safira dos olhos alcança o horizonte
Mas o coração fica no milharal


Da torre da igreja dobram-se os sinos
Num eco de fé que aos fieis enternece
E aquela velhinha de passos miudinhos
Aos olhos do mundo,já é uma prece!




Publicado no Recanto das Letras em 25/06/2009
Código do texto: T1667467