terça-feira, 6 de setembro de 2011

sexta-feira, 27 de maio de 2011

EM SILÊNCIO


foto do Autor -Antigo Seminário Santa Maria de Irati/PR
atual Universidade do Centro- Oeste do Paraná - UNICENTRO

Iratiense Joel Gomes Teixeira


Introspectivo sento-me em um dos bancos defronte a "Unicentro" (Universidade Estadual do Cento Oeste do PR).É domingo...Uma tarde de domingo,quase começo de noite.Naquela hora em que nos assolam os tais "olhos de penumbra",como diz a minha amiga Tânia Alvariz,aqui do recanto das letras.

Retornando de seu passeio alado,passa por mim uma borboleta.A pouca luminosidade da tarde impede-me de perceber-lhe as cores.Voa!...Sôfrega,embriagada de nectares.Sacodem-se as asas impulsionando-lhe num vôo cambaleante.Toma o rumo do bosque e a escuridão verde da mata acolhe-a em seus mistérios.

Em silêncio,reflito os silêncios...Maçiço é o silêncio que dorme no prédio enorme à minha frente,agasalhando em concreto as memórias de um antigo seminário...Aquêle!...Que tão bem conheci,por onde bebi o sol das manhãs de domingo filtrado em tôdas as cores nos vitrais da capela...

Orei em missas solenes.Aleluia!...Um coral de cem vozes...As escadarias,os corredores,trazendo em veludo os passos de Madre Placidina e as freiras do Sagrado Coração.As vestes imaculadas...Os mantos brancos,esvoaçantes revoadas...Pombais de liberdade aos ventos do Sul.

Perpétuo êste silêncio,capaz de reter entre as paredes o murmúrio de um tempo de fé que hoje acolhe em seus compartimentos a força divina da luz do saber.

Oposto ao maçiço,o meu silêncio é cambaleante,frágil e fugidio,feito o alar daquela borboleta.Confusos em nossos destinos...Sêres despercebidos à visão prática dos homens.Atentos aos números,às descobertas revolucionárias,às novidades dêste mundo moderno que explodem à cada fração de segundo tornando o planeta cada vez menos humano.Sinto-me repentinamente um ser "patético",um ingênuo,um alienado observador de vôos borboletísticos.Acabo rindo com pena de mim mesmo.
Uma imagem de São Francisco,remanescente do então Seminário,afixada sobre um tronco deitado na grama,parece-me apontar com o dedo para um céu que já começa a parir as primeiras estrelas.É hora de voltar...Dou a partida e saio dirigindo lentamente.Os espaços são todos meus,não há movimento.O caminho de volta,embora longo,é meu velho conhecido.A ponte,os pinheiros,o viaduto sôbre a linha férrea...Na beira do charco coaxam os sapos e o abandono dos ecos se embrenha na noite que em consolo oferece tão sòmente o negrume e uma esguia fileira de pés de eucaliptos que vistos de longe me lembram sombrinhas.Aquelas!...Quando desarmadas,deixadas a êsmo em algum corredor.Luzes enquadram janelas em casas semeadas aqui e acolá.

Penso na borboleta...Um tronco,uma ramagem,um galho qualquer,é seu lar,seu refúgio,um canto a lhe esperar.Também eu em retorno tenho um canto à minha espera.Vêm-me à lembrança um antigo pano de parede na casa de minha infância.As mãos sonhadoras de minha mãe o haviam bordado há mais de cinquenta anos.A estampa:Um ninho de pássaros sobre um galho e os filhotes alimentados por seus pais.Os dizeres:"Assim como os pássaros voltam aos ninhos,volta também um esposo ao lar que tem carinho".Por um instante imagino-me "um pássaro voltando"...Pensamentos alados conduzem-me ao sublime refúgio,ao aconchego do lar que por mim aguarda.

De repente me dou conta de que as janelas multiplicaram-se.São agora dezenas,centenas...Parecem-me olhos noturnos,absortos a espiar as trevas.

E em vão eu sigo tentando adivinhar as vidas,introspectivas,atrás de vidraças,no meio da noite com vagas estrelas piscando no céu.

segunda-feira, 9 de maio de 2011

CADERNO LITERÁRIO I N O RECANTO DAS LETRAS DE CRIAÇÃO DA POETA E ESCRITORA TANIA ORSI VARGAS


imagem/Mateus Zaccaro






BREVE INTRODUÇÃO
Tania Orsi Vargas


Há tempos venho falando e pensando sobre este fenômeno da intertextualidade que espontaneamente e às vezes por convites, ocorre nas escrivaninhas aonde poetas confraternizam escrevendo suas trovas ou poemas sobre temas escolhidos. Acabo de publicar um artigo compilado de um caderno lietrário português sobre tal assunto, e pra minha alegria e surpresa, já houve frutos, que a nossa querida poeta Lázara me comunicou ter- se inspirado ao ler os quatro poemas portugueses ali apresentados como ilustração, e escreveu na hora um poema que já publicou agora no dia 10 do corrente. E coincidentemente eu tinha lido seu poema "Chuva" e me inspirado para escrever o meu. Penso que estas experiências são notáveis e muito significativas, e assim deixo este depoimento iniciando esta série que chamei de Cadernos Literários, uma simples forma de tentar formalizar certos encontros espontâneos e dar ênfase ao que de muito positivo ocorre neste nosso Recanto.
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C H U V A S


Lazara Papandrea

ecoam os trovões
não há céu seco
a chuva molha
o céu
a vida
o beco
as rosas

nem as rosas escapam!
[e elas morrem de medo
do vácuo de céu nas
pétalas partidas...],,,,,

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INSTANTÂNEO


Tania Orsi Vargas



...A chuva interrompe nossas andanças de seres soltos

e joga sobre nós recados de águas novas e velhas

recados do Tempo nos temporais repentinos....

Tomados de surpresa, ela nos faz prisioneiros

um tanto atordoados

molha os nossos pés num susto que logo

se transforma em rendição ao inevitável...


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CHUVA DE OUTONO

Iratiense Joel Gomes Teixeira


...E aí numa prece implorou para o sol demorar.
Não queria o encanto quebrado,
de arabescos no chão desenhados.
Dos pés deslizando na massa ,
buscando arco Iris em cores,
portais de novos amores...


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CHUVA INTERNA

Calliope


Quando chega traz um alívio
Por derramar-se
Por desafogar-me

E neste derrame lava
Leva

Mas passados os dias...
Vai embolorando
E vem um cheiro esverdeado
Um cheiro de passado...

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DEIXA QUE A CHUVA LAVE O MEU ROSTO


Lilian Reinhardt

Eu preciso de ti
eu preciso me banhar
naquela poça d\'água pura
que espelha o céu da minha argila
e o pássaro de minha alma nela se banha...


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No link abaixo veja interação poética de escritores brasileiros do site REcanto das Letras


http://recantodasletras.com.br/poesias/2903161

sábado, 30 de abril de 2011

DEIXA QUE A CHUVA LAVE O MEU ROSTO



NO CADERNO LITERÁRIO I DO RECANTO DAS LETRAS DE CRIAÇÃO DA POETISA TANIA ORSI VARGAS




(Líricas de um Evangelho Insano)

Lilian Reinhardt


Eu preciso de ti
eu preciso me banhar
naquela poça d'água pura
que espelha o céu da minha argila
e o pássaro de minha alma nela se banha

Deixa que a chuva transborde
das conchas do entardecer
que preencha todos os beirais
que anseiam pela cálida luz da manhã
quando as rendas da aurora se abrem
e o cheiro de café envolve em volúpia
o sabor da mesa de alva toalha e os
verbos recém-colhidos
permita ainda
que a chuva te conte histórias
dos lugares por onde passou
dos pés de quem lavou
dos rastros que escondeu
dos pecados que perdoou...




recantodasletras.com.br/poesias/2903161
www.recantodasletras.com.br/mensagens/29052
http://www.recantodasletras.com.br/poesias/2907117

sábado, 23 de abril de 2011

BARBANTE AZUL






Youssef Rzouga

tradução do árabe para o espanhol por Rosa-Isabel Martinez Lillo

do espanhol para o português por Lilian Reinhardt




O posterior brinca com o anterior
e o anterior com o mais anterior
e o mais anterior com os ancestrais

É como se a morte, esta morte...
não fosse aquela morte, a morte.
a morte de ser terno e da vitalidade que o circunda!


Ou como se o momento, este momento...
não fosse aquele momento, o momento...
o momento do perfeito alhandal e de todo seu apetite sexual!


Ou como se a voz, esta voz...
não fosse aquela voz, a voz...
a voz do vil tirano e todos seus erros circundantes!
Ou como se a cor, aquela cor...
não fosse esta cor, a cor....
a cor do riso amarelo debaixo da máscara!


O poeta brinca com o leitor
e o leitor com o texto que tem diante dos olhos
brinca conosco este barbante azul
o mar do instante impetuoso
o mar das palavras

quinta-feira, 14 de abril de 2011

CHUVA DE OUTONO



NO CADERNO LITERÁRIO I DE CRIAÇÃO DA POETISA TANIA ORSI VARGAS NO RECANTO DAS LETRAS


IRATIENSE JOEL GOMES TEIXEIRA


Havia queixumes de outono
no abraço cinzento de céu.
Um pranto quieto de chuva benzia telhados,
encharcando gerânios em flor.
Nos pés as velhas galochas,
coração varado de amor.
Ela então ,qual gerânio de abril,
entregou-se à tarde lavada.
Um à um, na argila do tempo,
um feixe de sonhos moldou.
Tinha pressa...
E aí numa prece implorou para o sol demorar.
Não queria o encanto quebrado,
de arabescos no chão desenhados.
Dos pés deslizando na massa ,
buscando arco Iris em cores,
portais de novos amores.
Que sabia um dia viriam , serenos,qual sono de uma criança.
Ou brutos feito carroções,
sulcando a lama da estrada,
patinando em chão de cascalhos.
Teriam ruído estridente,
de metais tilintando em arreios.
Um carroceiro de olhar arrogante
estalando chicote no ar.
Assim ,presa na fantasia,
nem percebe a carroça passar.
E a môça dos sonhos de barro
embassa na chuva a esperança
até o comboio voltar...
um fio d´agua limpinha,
brotando à beira da estrada
Segue dolente e sozinho
um caminho que leva pro nada.




http://recantodasletras.com.br/poesias/2903161

quinta-feira, 24 de março de 2011

PORQUE ERA OUTONO




Iratiense Joel Gomes Teixeira



Engoliu as últimas colheradas de feijão com arroz e o casebre de duas peças tinha ainda aquêle cheiro de mandioca cozida.
Com a trouxa à cabeça,saiu pela porta dos fundos,cruzou o terreiro de chão batido onde adormecia o bronze das folhas de caquiseiro.
Chiavam cigarras e um céu que tombava muito azul procurava espaços entre uma núvem e outra.
A campina,crespa de marcelas,hospedava ovelhas e as cabras,pensativas,mascavam a erva dos tempos.Pelos desvãos da cerca divisou a velha russa,agachada,costurando um retalho à mais no colorido acolchoado.
À beira da sanga,com a saia de chita enfiada entre os cambitos,acocorou-se na prancha de imbuia deitada no lajeado.O sabão de cinza espumou a correnteza e os lambaris ouviram-na cantarolando.O espelho das águas,a mover-se,ondulhou-lhe o rosto na metade quieta daquêle dia.E ela viu-se refletida!...A imagem tremulava e,prêsas às orelhas,as argolas douradas acompanhavam-lhe o tremular da face.
Sentiu-se "Yara",brotando das águas...As mãos em concha banharam-lhe o colo,refrescaram-lhe a fronte e a môça percebeu narcisos nos cabelos úmidos.
Um arrepio!...Um espasmo prazeroso fez-lhe a mais linda das mulheres,a mais nobre em todo o universo.
Louvou a Deus as formas rústicas daquele casebre cheirando à mandioca. Abriu-se num sorriso manso,sem destinatário,e o entregou "aos cuidados" do mundo.As batidas das roupas cadenciaram-lhe as cantigas e de quando em quando num olhar mais distanciado,encontrou montanhas que azulavam-se e colinas loiras dos trigais do Sul.
Então su´alma emoldurou-se no âmbar da tarde.O ruído dos seixos em pequenos estalos,fuxicou-lhe aos ouvidos velhos segredos e algumas lembranças de ternuras antigas.
E o coração,trespassado de outono,pôs-se à espera de um novo amor.


Publicado no Recanto das Letras em 21/03/2011
Código do texto: T2862801

quarta-feira, 23 de fevereiro de 2011

A V I Ú V A




IRATIENSE JOEL GOMES TEIXEIRA



O movimento no armazém da Polaca ,hoje , não poderia ser melhor.Das duas portas largas de entrada por onde penduram-se alumínios,cachos de bananas e alguns cabides com peças de vestuário pode-se ver a cancha de \"bocha\" repleta.Os fregueses decidem em duplas os arremessos das pesadas bolas de madeira maçiça diante de olhares fanáticos distribuidos ao longo das laterais da cancha de areia torcendo pelos seus favoritos.
\"Anuxka-Caixeirinha\",como lhe chamam,incansável ,repõe as cervejas,as batidas e os martelinhos de cachaça pura que reforçam o entusiasmo da torcida.
Não param de chegar :colonos e peões.Os primeiros aportam em carroças coloridas.Os bancos encobertos , confortavelmente , em \"pelêgos\" de lã de carneiro na cor de laranja.A grande maioria vem acompanhada das mulheres e filhos. Os peões amarram os bem cuidados cavalos aos troncos das araucárias e rapidamente vão adentrando à venda.
No interior do estabelecimento:um alvoroço!...Falam todos ao mesmo tempo...Enquanto alguns são atendidos ao longo dos balcões os demais formam pequenos grupos a trocar idéias,falar de lavouras,saber das novidades....Os rostos encobertos pela fumaça dos palheiros tornan-se quase irreconhecíveis.Peões acotovelam-se junto ao balcão de bebidas por onde duas funcionárias não param um minuto.Num dos cantos vendem-se roupas,tecidos...A claridade do sol que entra pela vidraça reluz o brilho das bijouterias que as coloninhas provam em seus pescoçinhos alvos.A viúva Petrowska,dona do armazem,retira debaixo do tampo de vidro do balcão a última caixinha de pó de arroz para servir à freguesa e aproveita para chamar à atenção de sua gerente o descuido em deixar acabar um produto tão \"bom de venda\".
Katiuska Petrowski,êsse é na verdade o seu nome.Com a morte de seu esposo há mais de dois anos,seguindo um costume polonês de atribuir à viúva o sobrenome do finado , no feminino,passou a ser chamada \"Sra.Petrowska\" ou \"Viúva Petrowska\".É uma bela mulher.Beira os sessenta anos ,mas sua aparência não condiz com a idade que tem.Não é o que se pode definir como pessoa gorda.\"Cheínha\" é o termo que melhor se enquadra.A sua rechonchudez é muito bem distribuída nos seus um metro e setenta.Tem seios fartos e bonitos . Faz questão de deixa-los bem visíveis nos decotes de blusas muito colantes que costuma usar.Acompanhando as variantes de seu estado de espírito,em certos dias coloca no vértice do decote uma camélia de tecido que costuma ajeitar com frequência,já conhecendo a reação da \"piãozada\". Está sempre de saias largas,rodadas e , vez e outra,queixando-se dos pernilongos levanta-as bem acima dos joelhos para verificar (em) em suas bem torneadas e generosas coxas os \"terríveis sinais\" das picadas dos insetos.O sucesso junto ao público masculino é incontestável!...Mas ,por outro lado,é também muito querida pelas mulheres e especialmente pelas crianças a quem costuma fazer o seu \"Marketing\" oferecendo sempre uma balinha acompanhada de sua frase de efeito:\"Prá você,balinha de hortelã...Papai e mamãe de volta amanhã!\".É empreendedora e não perde a menor chance de faturar. A exemplo disso,agora no galpão ao lado,um grupo de empregados fazem a faxina. Empilham-se as sacas de cereais,varre-se e encera-se o assoalho para o baile que acontecerá à noite.Carpinteiros ajustam os últimos detalhes no pequeno palco para os músicos e improvisam balcões no botequim.Na cozinha estão bem adiantados os quitutes. Charutos de repolho,doces e guloseimas.Na fornalha rescende o cheiro dos frangos assados com farofa,as cucas recheadas,as bolachas de mel...Tudo para ser vendido durante o evento.Tôda esta agitação provoca na viúva uma certa ansiedade. Quer atender bem a todos e diante da impossibilidade,essa limitação desperta-lhe um apetite de leoa.Começa,então,a beliscar tudo o que lhe aparece pela frente.Abre o vidro de conserva e devora uma salsicha ao molho vinagrete. Um ôvo cozido também conservado ao vinagre...Um bom dia daqui,um\"Vai com Deus\" dali,e mais um
torresminho crocante,um gole na cachaçinha que faz a festa dos peões,uma cervejinha pra não \"desfeitear\" o cliente. Sem demora está corada. Sua pele lembra um lindo pêssego rosado!Os cabelos dourados e o par de olhos oscilando de um azul profundo ao verde esmeralda,enlouqueçem os peões. Excitados, erguem brindes intermináveis sem saber a quem ou a que.
Ciente do faturamento que a esta altura é dos melhores, a viúva comemora.Ergue o pequeno copo de canha e grita um \"Vivaaa!...\" Um coro de vozes responde e ela ingere mais um golezinho. Enganam-se ,porém, os peões achando-se favoritos da bela e rica viúva.Na verdade seu coração já tem um dono. Pertence à Jenauro. Caboclo,de aparência vistosa,capataz duma fazenda nas redondezas,que coincidentemente agora acaba de cruzar ao longo da coxilha numa distância considerável da casa de comércio.Segue em seu cavalo branco,num trote não muito apressado.O brilho de suas botas se faz luzir ao sol da manhã. O chapéu,fora da cabeça,preso ao barbicacho pende-lhe às .d
Destaca-se o vermelho do lenço sobre a camisa branca de mangas longas. Petrowska o vê passando. Num ímpeto desata a correr.Abre ,num empurrão, a portinhola do balcão e alcança a porta. A freguesia,abismada,fica a lhe observar sem entender o que está ocorrendo.A viúva mete dois dedos pela boca emitindo um assobio tão forte que parece rasgar a campina.Jenauro ,conhecedor dêste assobio,para o alazão. Atento, volta-se para o casarão de madeira.A voz de Petrowska , forte e decisiva,chega a ser quase autoritária:
Jenauro!...Não te esqueças: o \"ARASTA-PÉ\" é hoje à noite.Começa às nove ,não falte....Em voz baixa,quase sussurrada,arremata:\"QUERRIDO!\"
O capataz acena de longe,coloca o chapéu sobre a cabeça,e com a sua virilidade lisongeada ,arranha a espora no animal e sai num galope ligeiro.Ouve-se pela coxilha um grito de vitória:
_IiiiiiHuuuu!!!...
Em seguida,peão e cavalo,são engolidos pelo capão de mato.

Chega a noite. O galpão está repleto.Gaiteiros e violeiros acertam as últimas notas afinando os instrumentos.Jenauro já se faz presente.Conversa amistosamente com os demais peões e nem sequer imagina estar sendo observado pela viúva que por detrás da cortina de seu quarto na parte superior do casarão acha-lhe o mais encantador dos homens.Seu coração apaixonado pulsa mais forte...Os seios fartos apertados no vestido vermelho arfam! expandem o aroma sensual de \"Hora Intima\" generosamente distribuido em partes estratégicas de seu corpo.
Olha-se uma vez mais no espelho.A mulher que lhe sorri do outro lado é bela,cheirosa e cheia de amor.Lampeja-lhe uma vaga lembrança do falecido. Faz o sinal da cruz...\"Que Deus o tenha\"."...E que \"possa eu, ter o meu Jenauro\".
Adentra ao galpão. Êste transformado agora em salão de baile.Tremulam as bandeirinhas coloridas.Risos e conversas vão-se misturando...Fazem-lhe a corte já na porta de entrada . Um dos colonos lhe estende a mão para que alcançe com maior facilidade o tronco de imbuia que improvisa o degrau.É cumprimentada,saudada com aplausos e os músicos a convidam então para \"abrir o baile\".Deverá escolher com quem dançar a primeira música.Peões e colonos fazem um círculo...Petrowska retira a camélia que traz entre os seios...Passará por cada um dêles,de olhos fechados,e aos pés de quem deixar cair a flor, será êste o felizardo.
Como se trata de um jogo de cartas marcadas,é evidente que a flor tem um destino certo para cair.
Cai aos pés de Jenauro.
O salão é agora só dêles!...O casal deslisa no chão parafinado.A melodia é chorosa.Lembra uma valsa,mas dada à qualificação da \"orquestra\",difícil é definir o rítmo executado.Logo outros pares ajuntam-se e o salão é literalmente tomado pelos dançantes.
A partir daí,Petrowska e Jenauro não mais são vistos.
Manhã seguinte.O casarão de madeira mergulha numa paz enternecedora.Tão sòmente as vozes esganiçadas das polaquinhas,ponteando as vacas,quebra o silêncio.
Petrowska levanta-se.Abre a janela e aspira o ar que tem cheiro de terra...Cheiro de guabirobas.
Um sabiá canta,entranhado na mata.Peões,embriagados,curam-se das ressacas esparramados na grama orvalhada.Uma das polaquinhas,erguendo o balde alumínio,grita-lhe do curral:
-\"Que dia liiindo!\"...
Petrowska,com aquela cara de pêssego recém colhido,acena afirmativamente com a cabeça e responde em voz alta:
-E eu acordei \"SORINDO!\"
Volta-se para o aposento e sorri,agora com dois \"érres\".
O quarto está em total desalinho.Calça e camisa,jogadas num canto,botas e chapéu no outro. O vestido vermelho,amarrotado,sôbre a profusão de frascos na penteadeira.
Jenauro,de bruço,ronca,contorçe os músculos,resmunga algo incompreensível.Vira-se de lado e,roncando ainda,mastigao esbôço de um prazeroso sorriso no canto da boca.
Petrowska,fascinada lhe observa.Então,num sussurro,diz para si mesma:
\"Como sou feliz!\"




http://recantodasletras.uol.com.br/autor.php?id=57640

sexta-feira, 21 de janeiro de 2011

HAICAI 28A





Pinha florescida
florescem ao chão os pinhões
e no azul as gralhas

Lilian Reinhardt