sexta-feira, 27 de maio de 2011

EM SILÊNCIO


foto do Autor -Antigo Seminário Santa Maria de Irati/PR
atual Universidade do Centro- Oeste do Paraná - UNICENTRO

Iratiense Joel Gomes Teixeira


Introspectivo sento-me em um dos bancos defronte a "Unicentro" (Universidade Estadual do Cento Oeste do PR).É domingo...Uma tarde de domingo,quase começo de noite.Naquela hora em que nos assolam os tais "olhos de penumbra",como diz a minha amiga Tânia Alvariz,aqui do recanto das letras.

Retornando de seu passeio alado,passa por mim uma borboleta.A pouca luminosidade da tarde impede-me de perceber-lhe as cores.Voa!...Sôfrega,embriagada de nectares.Sacodem-se as asas impulsionando-lhe num vôo cambaleante.Toma o rumo do bosque e a escuridão verde da mata acolhe-a em seus mistérios.

Em silêncio,reflito os silêncios...Maçiço é o silêncio que dorme no prédio enorme à minha frente,agasalhando em concreto as memórias de um antigo seminário...Aquêle!...Que tão bem conheci,por onde bebi o sol das manhãs de domingo filtrado em tôdas as cores nos vitrais da capela...

Orei em missas solenes.Aleluia!...Um coral de cem vozes...As escadarias,os corredores,trazendo em veludo os passos de Madre Placidina e as freiras do Sagrado Coração.As vestes imaculadas...Os mantos brancos,esvoaçantes revoadas...Pombais de liberdade aos ventos do Sul.

Perpétuo êste silêncio,capaz de reter entre as paredes o murmúrio de um tempo de fé que hoje acolhe em seus compartimentos a força divina da luz do saber.

Oposto ao maçiço,o meu silêncio é cambaleante,frágil e fugidio,feito o alar daquela borboleta.Confusos em nossos destinos...Sêres despercebidos à visão prática dos homens.Atentos aos números,às descobertas revolucionárias,às novidades dêste mundo moderno que explodem à cada fração de segundo tornando o planeta cada vez menos humano.Sinto-me repentinamente um ser "patético",um ingênuo,um alienado observador de vôos borboletísticos.Acabo rindo com pena de mim mesmo.
Uma imagem de São Francisco,remanescente do então Seminário,afixada sobre um tronco deitado na grama,parece-me apontar com o dedo para um céu que já começa a parir as primeiras estrelas.É hora de voltar...Dou a partida e saio dirigindo lentamente.Os espaços são todos meus,não há movimento.O caminho de volta,embora longo,é meu velho conhecido.A ponte,os pinheiros,o viaduto sôbre a linha férrea...Na beira do charco coaxam os sapos e o abandono dos ecos se embrenha na noite que em consolo oferece tão sòmente o negrume e uma esguia fileira de pés de eucaliptos que vistos de longe me lembram sombrinhas.Aquelas!...Quando desarmadas,deixadas a êsmo em algum corredor.Luzes enquadram janelas em casas semeadas aqui e acolá.

Penso na borboleta...Um tronco,uma ramagem,um galho qualquer,é seu lar,seu refúgio,um canto a lhe esperar.Também eu em retorno tenho um canto à minha espera.Vêm-me à lembrança um antigo pano de parede na casa de minha infância.As mãos sonhadoras de minha mãe o haviam bordado há mais de cinquenta anos.A estampa:Um ninho de pássaros sobre um galho e os filhotes alimentados por seus pais.Os dizeres:"Assim como os pássaros voltam aos ninhos,volta também um esposo ao lar que tem carinho".Por um instante imagino-me "um pássaro voltando"...Pensamentos alados conduzem-me ao sublime refúgio,ao aconchego do lar que por mim aguarda.

De repente me dou conta de que as janelas multiplicaram-se.São agora dezenas,centenas...Parecem-me olhos noturnos,absortos a espiar as trevas.

E em vão eu sigo tentando adivinhar as vidas,introspectivas,atrás de vidraças,no meio da noite com vagas estrelas piscando no céu.

segunda-feira, 9 de maio de 2011

CADERNO LITERÁRIO I N O RECANTO DAS LETRAS DE CRIAÇÃO DA POETA E ESCRITORA TANIA ORSI VARGAS


imagem/Mateus Zaccaro






BREVE INTRODUÇÃO
Tania Orsi Vargas


Há tempos venho falando e pensando sobre este fenômeno da intertextualidade que espontaneamente e às vezes por convites, ocorre nas escrivaninhas aonde poetas confraternizam escrevendo suas trovas ou poemas sobre temas escolhidos. Acabo de publicar um artigo compilado de um caderno lietrário português sobre tal assunto, e pra minha alegria e surpresa, já houve frutos, que a nossa querida poeta Lázara me comunicou ter- se inspirado ao ler os quatro poemas portugueses ali apresentados como ilustração, e escreveu na hora um poema que já publicou agora no dia 10 do corrente. E coincidentemente eu tinha lido seu poema "Chuva" e me inspirado para escrever o meu. Penso que estas experiências são notáveis e muito significativas, e assim deixo este depoimento iniciando esta série que chamei de Cadernos Literários, uma simples forma de tentar formalizar certos encontros espontâneos e dar ênfase ao que de muito positivo ocorre neste nosso Recanto.
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C H U V A S


Lazara Papandrea

ecoam os trovões
não há céu seco
a chuva molha
o céu
a vida
o beco
as rosas

nem as rosas escapam!
[e elas morrem de medo
do vácuo de céu nas
pétalas partidas...],,,,,

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INSTANTÂNEO


Tania Orsi Vargas



...A chuva interrompe nossas andanças de seres soltos

e joga sobre nós recados de águas novas e velhas

recados do Tempo nos temporais repentinos....

Tomados de surpresa, ela nos faz prisioneiros

um tanto atordoados

molha os nossos pés num susto que logo

se transforma em rendição ao inevitável...


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CHUVA DE OUTONO

Iratiense Joel Gomes Teixeira


...E aí numa prece implorou para o sol demorar.
Não queria o encanto quebrado,
de arabescos no chão desenhados.
Dos pés deslizando na massa ,
buscando arco Iris em cores,
portais de novos amores...


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CHUVA INTERNA

Calliope


Quando chega traz um alívio
Por derramar-se
Por desafogar-me

E neste derrame lava
Leva

Mas passados os dias...
Vai embolorando
E vem um cheiro esverdeado
Um cheiro de passado...

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DEIXA QUE A CHUVA LAVE O MEU ROSTO


Lilian Reinhardt

Eu preciso de ti
eu preciso me banhar
naquela poça d\'água pura
que espelha o céu da minha argila
e o pássaro de minha alma nela se banha...


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No link abaixo veja interação poética de escritores brasileiros do site REcanto das Letras


http://recantodasletras.com.br/poesias/2903161