sábado, 7 de junho de 2014

Estudo cor de abóbora da minha infância


                                   óleo s/tela
                                   Lreinhardt

sábado, 9 de junho de 2012

O BOMBEIRO E O HIDRANTE

                               conto de Madalena Barranco

A água bloqueada por tanto tempo começou a escorrer. O hidrante de chapéu vermelho apoiado em sua coluna cinzenta e com todas as válvulas abertas, sabia que deveria dosar a emoção cuidadosamente, pois seria o principal instrumento de salvação para o sobrado em chamas. Alguém disse que o imóvel estava vazio, mas, isso não impediu que os soldados lacrimejassem.

Ouviu-se um murmúrio ardente no local do sinistro. Um dos bombeiros protegido pelos colegas arriscou-se a adentrar o incêndio. Enquanto isso, o hidrante afogado em sua própria emoção preocupava-se com o soldado, que naquele dia o libertara da falta de respeito com a qual sofria, em que era diariamente maltratado como poste para cachorros e alvo de chutes, entre outras grosserias. De repente, um estrondo de ferro retorcido mostrou que a casa havia cedido. O bombeiro havia sumido. Mas, o hidrante não desistiu dele e continuou vertendo água pelos braços enferrujados - se fosse preciso ele converter-se-ia no tubo mais poderoso da adutora para salvar aquele valoroso homem de capacete vermelho e farda cinza. Silêncio – o chapéu do hidrante não resistiu à pressão e soltou-se voando para o céu. O público que acompanhava a operação
dirigiu instintivamente seu olhar para cima e após um trovão que ribombou em todos os corações... Desceu a chuva sobre o fogo! Foi nesse instante em que de a montanha de cinzas renasceu o bombeiro, ainda cambaleante com a farda aos farrapos e com o troféu que salvara nos braços.

Alguém gritou: “milagre!”! Os outros bombeiros se entreolharam. Eles sabiam que os milagres ocorriam, por que a Corporação vermelha de luz & amor trabalhava arduamente para fazê-los acontecer, valorizando todas as formas de vida.

O hidrante enferrujado estancou todas as válvulas que pôde, e verteu suas últimas gotas com a cabeça descoberta em sinal de gratidão pela vida e trabalho dos bombeiros. Porém, antes de tombar, o hidrante reconheceu a vítima que fora salva do incêndio pelo soldado, e que latia feliz em sentir-se perdoada pelo seu “poste” preferido.

Madalena Barranco
Da série: Fantasia & Amor
Registro na FBN/EDA

terça-feira, 6 de setembro de 2011

sexta-feira, 27 de maio de 2011

EM SILÊNCIO


foto do Autor -Antigo Seminário Santa Maria de Irati/PR
atual Universidade do Centro- Oeste do Paraná - UNICENTRO

Iratiense Joel Gomes Teixeira


Introspectivo sento-me em um dos bancos defronte a "Unicentro" (Universidade Estadual do Cento Oeste do PR).É domingo...Uma tarde de domingo,quase começo de noite.Naquela hora em que nos assolam os tais "olhos de penumbra",como diz a minha amiga Tânia Alvariz,aqui do recanto das letras.

Retornando de seu passeio alado,passa por mim uma borboleta.A pouca luminosidade da tarde impede-me de perceber-lhe as cores.Voa!...Sôfrega,embriagada de nectares.Sacodem-se as asas impulsionando-lhe num vôo cambaleante.Toma o rumo do bosque e a escuridão verde da mata acolhe-a em seus mistérios.

Em silêncio,reflito os silêncios...Maçiço é o silêncio que dorme no prédio enorme à minha frente,agasalhando em concreto as memórias de um antigo seminário...Aquêle!...Que tão bem conheci,por onde bebi o sol das manhãs de domingo filtrado em tôdas as cores nos vitrais da capela...

Orei em missas solenes.Aleluia!...Um coral de cem vozes...As escadarias,os corredores,trazendo em veludo os passos de Madre Placidina e as freiras do Sagrado Coração.As vestes imaculadas...Os mantos brancos,esvoaçantes revoadas...Pombais de liberdade aos ventos do Sul.

Perpétuo êste silêncio,capaz de reter entre as paredes o murmúrio de um tempo de fé que hoje acolhe em seus compartimentos a força divina da luz do saber.

Oposto ao maçiço,o meu silêncio é cambaleante,frágil e fugidio,feito o alar daquela borboleta.Confusos em nossos destinos...Sêres despercebidos à visão prática dos homens.Atentos aos números,às descobertas revolucionárias,às novidades dêste mundo moderno que explodem à cada fração de segundo tornando o planeta cada vez menos humano.Sinto-me repentinamente um ser "patético",um ingênuo,um alienado observador de vôos borboletísticos.Acabo rindo com pena de mim mesmo.
Uma imagem de São Francisco,remanescente do então Seminário,afixada sobre um tronco deitado na grama,parece-me apontar com o dedo para um céu que já começa a parir as primeiras estrelas.É hora de voltar...Dou a partida e saio dirigindo lentamente.Os espaços são todos meus,não há movimento.O caminho de volta,embora longo,é meu velho conhecido.A ponte,os pinheiros,o viaduto sôbre a linha férrea...Na beira do charco coaxam os sapos e o abandono dos ecos se embrenha na noite que em consolo oferece tão sòmente o negrume e uma esguia fileira de pés de eucaliptos que vistos de longe me lembram sombrinhas.Aquelas!...Quando desarmadas,deixadas a êsmo em algum corredor.Luzes enquadram janelas em casas semeadas aqui e acolá.

Penso na borboleta...Um tronco,uma ramagem,um galho qualquer,é seu lar,seu refúgio,um canto a lhe esperar.Também eu em retorno tenho um canto à minha espera.Vêm-me à lembrança um antigo pano de parede na casa de minha infância.As mãos sonhadoras de minha mãe o haviam bordado há mais de cinquenta anos.A estampa:Um ninho de pássaros sobre um galho e os filhotes alimentados por seus pais.Os dizeres:"Assim como os pássaros voltam aos ninhos,volta também um esposo ao lar que tem carinho".Por um instante imagino-me "um pássaro voltando"...Pensamentos alados conduzem-me ao sublime refúgio,ao aconchego do lar que por mim aguarda.

De repente me dou conta de que as janelas multiplicaram-se.São agora dezenas,centenas...Parecem-me olhos noturnos,absortos a espiar as trevas.

E em vão eu sigo tentando adivinhar as vidas,introspectivas,atrás de vidraças,no meio da noite com vagas estrelas piscando no céu.

segunda-feira, 9 de maio de 2011

CADERNO LITERÁRIO I N O RECANTO DAS LETRAS DE CRIAÇÃO DA POETA E ESCRITORA TANIA ORSI VARGAS


imagem/Mateus Zaccaro






BREVE INTRODUÇÃO
Tania Orsi Vargas


Há tempos venho falando e pensando sobre este fenômeno da intertextualidade que espontaneamente e às vezes por convites, ocorre nas escrivaninhas aonde poetas confraternizam escrevendo suas trovas ou poemas sobre temas escolhidos. Acabo de publicar um artigo compilado de um caderno lietrário português sobre tal assunto, e pra minha alegria e surpresa, já houve frutos, que a nossa querida poeta Lázara me comunicou ter- se inspirado ao ler os quatro poemas portugueses ali apresentados como ilustração, e escreveu na hora um poema que já publicou agora no dia 10 do corrente. E coincidentemente eu tinha lido seu poema "Chuva" e me inspirado para escrever o meu. Penso que estas experiências são notáveis e muito significativas, e assim deixo este depoimento iniciando esta série que chamei de Cadernos Literários, uma simples forma de tentar formalizar certos encontros espontâneos e dar ênfase ao que de muito positivo ocorre neste nosso Recanto.
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C H U V A S


Lazara Papandrea

ecoam os trovões
não há céu seco
a chuva molha
o céu
a vida
o beco
as rosas

nem as rosas escapam!
[e elas morrem de medo
do vácuo de céu nas
pétalas partidas...],,,,,

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INSTANTÂNEO


Tania Orsi Vargas



...A chuva interrompe nossas andanças de seres soltos

e joga sobre nós recados de águas novas e velhas

recados do Tempo nos temporais repentinos....

Tomados de surpresa, ela nos faz prisioneiros

um tanto atordoados

molha os nossos pés num susto que logo

se transforma em rendição ao inevitável...


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CHUVA DE OUTONO

Iratiense Joel Gomes Teixeira


...E aí numa prece implorou para o sol demorar.
Não queria o encanto quebrado,
de arabescos no chão desenhados.
Dos pés deslizando na massa ,
buscando arco Iris em cores,
portais de novos amores...


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CHUVA INTERNA

Calliope


Quando chega traz um alívio
Por derramar-se
Por desafogar-me

E neste derrame lava
Leva

Mas passados os dias...
Vai embolorando
E vem um cheiro esverdeado
Um cheiro de passado...

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DEIXA QUE A CHUVA LAVE O MEU ROSTO


Lilian Reinhardt

Eu preciso de ti
eu preciso me banhar
naquela poça d\'água pura
que espelha o céu da minha argila
e o pássaro de minha alma nela se banha...


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No link abaixo veja interação poética de escritores brasileiros do site REcanto das Letras


http://recantodasletras.com.br/poesias/2903161

sábado, 30 de abril de 2011

DEIXA QUE A CHUVA LAVE O MEU ROSTO



NO CADERNO LITERÁRIO I DO RECANTO DAS LETRAS DE CRIAÇÃO DA POETISA TANIA ORSI VARGAS




(Líricas de um Evangelho Insano)

Lilian Reinhardt


Eu preciso de ti
eu preciso me banhar
naquela poça d'água pura
que espelha o céu da minha argila
e o pássaro de minha alma nela se banha

Deixa que a chuva transborde
das conchas do entardecer
que preencha todos os beirais
que anseiam pela cálida luz da manhã
quando as rendas da aurora se abrem
e o cheiro de café envolve em volúpia
o sabor da mesa de alva toalha e os
verbos recém-colhidos
permita ainda
que a chuva te conte histórias
dos lugares por onde passou
dos pés de quem lavou
dos rastros que escondeu
dos pecados que perdoou...




recantodasletras.com.br/poesias/2903161
www.recantodasletras.com.br/mensagens/29052
http://www.recantodasletras.com.br/poesias/2907117

sábado, 23 de abril de 2011

BARBANTE AZUL






Youssef Rzouga

tradução do árabe para o espanhol por Rosa-Isabel Martinez Lillo

do espanhol para o português por Lilian Reinhardt




O posterior brinca com o anterior
e o anterior com o mais anterior
e o mais anterior com os ancestrais

É como se a morte, esta morte...
não fosse aquela morte, a morte.
a morte de ser terno e da vitalidade que o circunda!


Ou como se o momento, este momento...
não fosse aquele momento, o momento...
o momento do perfeito alhandal e de todo seu apetite sexual!


Ou como se a voz, esta voz...
não fosse aquela voz, a voz...
a voz do vil tirano e todos seus erros circundantes!
Ou como se a cor, aquela cor...
não fosse esta cor, a cor....
a cor do riso amarelo debaixo da máscara!


O poeta brinca com o leitor
e o leitor com o texto que tem diante dos olhos
brinca conosco este barbante azul
o mar do instante impetuoso
o mar das palavras